quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

- Lucy in the Sky with Diamonds:


       Estou jantando a minha gororoba tranquilamente enquanto assisto ao “Jornal Nacional”, era a noite de 3 de Fevereiro se não me engano. De repente a notícia de que policiais abordaram um rapaz que estava usando maconha na praia de Ipanema. Este usuário conseguiu escapar, isso porque parece que houve um grande tumulto entre os banhistas que protestaram e impediram que os policiais o levassem. No dia seguinte, abro o jornal O Globo e descubro, na página 15, a mesma notícia, só que agora fico sabendo que cinco pessoas que tentaram impedir a ação policial foram detidas e serão autuadas por desacato à autoridade e lesão corporal.

       Calma, leitor amigo! Não vou escrever sobre a liberalização das drogas, nem sobre truculência policial, nem sobre tráfico e muito menos sobre vulgas idéias como “elites hipócritas que aceitam a repressão contra o tráfico nas favelas, mas não contra a repressão do uso da droga no seu quintal”, que é uma das opiniões que já ouvi falar. Para ser bem sincero, todas estas questões são demasiadamente complexas e, como esta não é uma coluna séria, não vou ficar entrando nelas, até porque eu também não tenho estudo nem nada para ficar falando disso.

       O que me chama atenção nisso não é tanto a maconha, mas sim o porquê de usá-la. Eu nunca fiz uso, no entanto posso dizer que conheço muita gente que usa e me relatam as mais diferentes experiências. O relato que melhor me lembro é o de um amigo meu que foi no último show do Pink Floyd, aqui no Rio, e fez uso da maconha. Ele me dizia que seus sentidos ficavam mais aguçados, ele “experimentava” e “sentia” mais o show quando estava sob efeito da marijuana. Ou seja, a maconha oferecia uma maneira diversa, e para o meu amigo melhor, de se experimentar o show. O que eu venho colocar é o seguinte: em minha opinião, estamos cercados por propagandas e opções que na sua grande maioria das vezes primam pelo exagero das sensações e o extremo das experiências. Vejamos a nova geração de vídeo-games, o Wii o PS3 e o XBOX-360. Todos eles prometem uma experiência mais profunda do jogo, seja com processadores ultra-rápidos e com gráficos deslumbrantes e cada vez mais reais (PS3 e XBOX-360) ou através de uma jogabilidade diferente que transporta o jogador cada vez mais para dentro do jogo (Wii). E isso é apenas um exemplo, vejamos os esportes que surgiram nas últimas décadas, como o buggie-jump (isso surgiu nas últimas décadas? Sei lá meu filho, vai procurar na Wikipedia...). É loucura para uns, mas para outros é o extremo de uma experiência com um esporte. E o viagra? Velhinhos, a pipa do vovô voltou a subir! Continue experimentando do sexo na terceira idade! E tem mais, ainda existem casos de jovenzinhos que usam o viagra para aumentar a experiência e duração do sexo. É Deus no céu e viagra na terra meu filho. Enfim, só são pequenos exemplos, mas que, pelo menos para mim, mostram como a nossa sociedade está cercada de propagandas e produtos que nos incitam a experimentar mais, ir mais fundo nas nossas sensações.

       Nesse ponto que eu volto para a maconha. Oras! Se o mundo que nos cerca prima pela propaganda do “você nunca experimentou algo igual” ou “experimente mais e melhor”, como podemos reprimir a maconha ou outros tipos de alucinógenos que nos fornecem um aumento das sensações e experiências? (a maconha é um alucinógeno? Talvez tenha gente que fique até mais sensata sob o seu efeito...). O fato é que ainda não lidamos bem com a questão da droga, temos uma sociedade contraditória que incita a experiência e ao mesmo tempo a reprime. A maconha pode ser mesmo uma dessas formas de se obter a experiência “mais profunda” tão vinculada pelas propagandas, porém o seu uso é socialmente mal visto. E Porque diabos é mal visto? Claro, como eu disse anteriormente, essa discussão dá “pano para a manga”, e certamente teríamos que analisar diversos outros fatores para entender melhor esse olhar sobre a maconha, mas eu só queria tocar neste ponto mesmo, que é o quanto nós vivemos em uma sociedade contraditória embora nem sempre nos demos conta disso.

Think about!

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