sábado, 7 de fevereiro de 2009

- A Mulher de Bath e Dona Flor: gênero, sexo e tabu do século XIV ao XXI.


       Nestas férias, como eu sou uma pessoa muito responsável, acabei lendo muito pouco para a minha monografia da faculdade. Não me arrependo, em compensação estou lendo um verdadeiro achado que encontrei há pouco tempo. Trata-se dos Contos de Cantuária, um livro escrito pelo inglês Geoffrey Chaucer, que viveu na Inglaterra do século XIV, ou seja, no período que convencionamos chamar de “Idade Média”.



       O enredo da obra, em linhas gerais, é o seguinte: diversas pessoas, um cavaleiro, um monge, um frade, um mercador e outros arquétipos medievais, acabam se encontrando em uma estalagem. Todos tinham um ponto em comum, estavam em uma peregrinação rumo á Catedral de Cantuária, uma região da Inglaterra. Resolvem todos seguirem viagem juntos e, como propõe o albergueiro da estalagem, a cada um fica incumbido de contar uma história para tornar a viagem mais agradável. Aquele que contasse a melhor história ganharia um banquete oferecido por toda a comitiva. Assim, a cada capítulo do livro encontramos um conto diferente, o conto do mercador, o conto do cavaleiro, o conto do homem do mar e entre outros.
O que me chamou particular atenção foi o conto da mulher de Bath. Antes de começar seu conto, a mulher de Bath faz um longo prólogo, que no final acaba sendo maior que o conto, onde fala da sua experiência pessoal com casamentos. Fora casada cinco vezes e, antes que alguém começasse a criticá-la, defendeu-se logo afirmando:

       “Quantos, afinal, ela podia desposar? Até hoje, pelo que eu saiba, ninguém definiu esse número. Por isso deixo que os outros façam as suas suposições e as suas interpretações; quanto a mim, o que sei é que Deus, expressamente e sem mentira, ordenou-nos claramente isto: “Crescei e multiplicai-vos!”. E esse texto gentil entendo muito bem.” (Os Contos de Cantuária (The Canterbury Tales). Geoffrey Chaucer; apresentação, tradução direta do médio inglês e notas de Paulo Vizioli. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988, pág. 137).

       O aspecto que me chamou grande atenção para este conto foi justamente como a questão da sexualidade é encarada pela mulher. Claro, não nos esqueçamos que quem escreve é Chaucer, um homem, portanto as opiniões da mulher de Bath na verdade são as colocações dele sobre como uma mulher poderia encarar a sexualidade. Entretanto, Chaucer vive em um contexto e certamente é influenciado por ele, ou seja, quero dizer que mesmo que sejam suas opiniões, Chaucer não desconhecia, provavelmente, a situação da mulher no casamento e perante a sexualidade. Até porque, deixem-me acrescentar, Chaucer foi um homem casado também. Então Chaucer não colocava as palavras na boca da mulher de Bath levianamente, mostrando para nós os tabus com relação ao sexo da época, as críticas sobre como ele era encarado.

       Voltando ao conto, podemos perceber como a mulher de Bath critica a maioria das convenções sociais da época com relação ao sexo. Ela começa por falar do divórcio para logo depois tratar da virgindade. Suas palavras costumam ser arrebatadoras e merecem ser colocadas aqui:

       “E onde ordenou Ele a virgindade? Sem dúvida, sei tão bem quanto vocês que quando o Apóstolo Paulo falou da virgindade, reconheceu não ter qualquer preceito sobre o assunto: pode-se aconselha-la às mulheres. Mas aconselhar não é o mesmo que ordenar.” (Os Contos de Cantuária (The Canterbury Tales). Geoffrey Chaucer; apresentação, tradução direta do médio inglês e notas de Paulo Vizioli. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988, pág. 138).

       A sua colocação sobre os órgãos genitais é ainda mais ácida:

       “Além disso, gostaria que me dissessem: qual a finalidade dos órgãos de reprodução? E por que foram formados desse modo tão engenhoso? Acreditem-me, se foram feitos, é lógico que foram feitos para alguma coisa! Digam o que quiserem, - como dizem mesmo por aí, - que servem para a excreção da urina, ou então para distinguir fêmea de macho e nada mais...não é o que dizem? A experiência, contudo, prova que não é bem assim. Espero que os doutos não se zanguem comigo, mas, na minha opinião, eles foram feitos para as duas coisas, isto é, para o serviço e para o prazer da procriação ( dentro do que a lei de Deus estabelece). Se não fosse assim, porque está escrito nos livros que o homem tem obrigação de pagar seu débito à mulher? E como poderia ele pagar seu débito, a não ser usando aquele seu instrumentinho engraçado?” (Os Contos de Cantuária (The Canterbury Tales). Geoffrey Chaucer; apresentação, tradução direta do médio inglês e notas de Paulo Vizioli. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988, págs. 138-139).

       E no seu discurso não encontramos somente aspectos ligados á sexualidade, mas também a características constitutivas do que seria mesmo o feminino – o que caracterizaria uma mulher. Ao falar de como foram seus casamentos, ela coloca advertências para as mulheres como, por exemplo, manter os maridos sempre na defensiva, “pois os homens não conseguem jurar e mentir nem a metade do que as mulheres costumam.” (Os Contos de Cantuária (The Canterbury Tales). Geoffrey Chaucer; apresentação, tradução direta do médio inglês e notas de Paulo Vizioli. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988, págs. 140).

       Mais para frente ela fala:

       “Também jurava que minhas saídas à noite eram para espionar os seus encontros amorosos (dos maridos); e, graças a essa desculpa, pude ter muitas alegrias. Pois esses talentos já nasceram conosco: Deus quis que as mentiras, as lágrimas e as intrigas fizessem parte da natureza da mulher, em todas as idades. Por isso, há uma coisa de que me orgulho muito: no fim das contas, eu sempre levava a melhor em tudo, de um jeito ou de outro, por esperteza ou à força, e sempre com resmungos e queixumes.” (Os Contos de Cantuária (The Canterbury Tales). Geoffrey Chaucer; apresentação, tradução direta do médio inglês e notas de Paulo Vizioli. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988, págs. 143).

       Ou seja, a mulher é maliciosa, consegue dobrar seu marido através da lábia. Isso me faz lembrar de um trecho de uma entrevista com Jacques Le Goff, um historiador medievalista francês. Acho que o trecho é interessante para pensarmos essa questão, vejamos:

       “L’Histoire: A doutrina da Igreja, redigida pelos homens, não expressa antes de tudo um radical medo da mulher?

       Jacques Le Goff: Certamente há, e nisso a Igreja não se recuperou totalmente, um medo da mulher, que foi, como disse Jean Delumeau, um dos grandes medos do Ocidente. Mas isso seria um fato da Igreja ou dos homens? Seria tão fácil livrar-se disso? Será que isso mudou tanto?” ( “O Cristianismo Libertou as Mulheres.” IN: LE GOFF, Jacques. Uma Longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 130)

       Le Goff coloca uma questão muito interessante: será que isso mudou tanto? Será que os homens quando usam aquela máxima “ninguém entende as mulheres”, na verdade não estão colocando apenas uma versão modificada do medo que as mulheres expressavam nos tempos passados. Aliás, ainda hoje se ouve falar de intriga entre mulheres, ou de como uma passa a perna em outra e de como podem ser terríveis suas vinganças. (Por favor, me avisem se eu estiver viajando muito, ok?).

       É incrível percebermos o quanto essas nossas concepções do feminino são construídas não só por nós, mas também pelas idéias e concepções passadas. E é a partir do exame do passado que podemos perceber se mudamos ou não. Oras, todas as questões levantadas pela mulher de Bath sobre a sexualidade são pertinentes ainda nos dias de hoje! E isso que é interessante, podemos ler um texto do século XIV e descobrir o quanto atual ele ainda é! Quero citar só mais um exemplo para fazer uma pequena comparação.

       Recentemente fui ao teatro (sim, definitivamente eu não estudei nada para a minha monografia nestas férias...) assistir a peça “Dona Flor e seus Dois Maridos”, uma adaptação do livro de Jorge Amado. Para não me estender muito, trata-se de uma história onde dona Flor casa-se com Valdinho, rapaz galanteador e com uma queda pelo jogo. Vivia a pedir dinheiro emprestado para dona Flor, ficando até mesmo violento. Acaba morrendo repentinamente e dona Flor fica viúva. Entretanto, logo se arranja com o Dr. Theodoro Madureira, rapaz doutor – sério e respeitador – que não deixava faltar nada para a sua mulher. Nadinha, nadinha...só que na hora do “vamos ver” o doutor não era como o Valdinho. Este acaba voltando do além e se torna o “segundo” marido de dona Flor, por assim dizer.

       O que me chamou atenção foi uma cena na qual dona Flor está a conversar com uma amiga sua, cujo nome eu não me lembro agora, e reclama de um problema que já vinha a muito lhe afligindo: estava um ano viúva de Valdinho mas o “fogo” dela ainda não havia se apagado. A amiga já sabe o que era isso, era falta de homem mesmo e recomenda que dona Flora largue logo os hábitos de viúva e se arranje de novo. Flor fica boba com a resposta, falando que isso não é certo nem direito.

       Pois então, caro leitor, que situação! Temos duas mulheres viúvas, a mulher de Bath e a dona Flor, dois autores, Geoffrey Chaucer e Jorge Amado, dois séculos, o XIV e o XX, mas, apesar de tão distantes no tempo e no espaço, o mesmo problema! A mulher e a questão do sexo. No site http://divirta-se.correioweb.com.br/materias.htm?materia=366&secao=Programe-se&data=200711 a atriz Carol Castro, que interpreta dona Flor, coloca que sua personagem “vive em uma luta dúbia entre a seriedade de uma esposa de respeito e o fogo, a vontade de vadiar com o marido falecido”. Certamente esta é uma interpretação possível da personagem, e de fato se formos comparar, a dona Flor no final, quando se entrega à sua vontade de se deitar com o “defunto-marido”, acaba tornando-se uma mulher de Bath, ao aceitar sua sexualidade e o direito ao prazer.
Qual a relevância disso tudo para os dias de hoje? Certamente o mundo já não é tão hipócrita com relação ao sexo e as mulheres, já somos mais conscientes (em algumas partes do globo, claro) da independência econômica, social e até mesmo sexual feminina. Entretanto, a própria proximidade do tema das duas obras, em contraste com a longa distância de tempo em que foram produzidas, demonstra que não mudamos tanto assim com ralação a moral e ao sexo. Por isso mesmo que o conto da mulher de Bath ainda sendo, insisto em repetir, escrito no séc. XIV, é extremamente atual no século XXI. Tanto que, quando a mulher termina seu conto, faz um apelo que atualmente poderia muito bem ser encontrado na boca de qualquer mulher do “Sex and the City”, vejamos:

       “Que Jesus Cristo mande a nós também maridos dóceis, jovens e fogosos na cama...e a graça de podermos sobreviver a eles! E, por outro lado, encurte a vida dos homens que não se deixam dominar por suas mulheres, e que são velhos, ranzinzas e avarentos...para esses pestes, Deus, envie a peste!” (Os Contos de Cantuária (The Canterbury Tales). Geoffrey Chaucer; apresentação, tradução direta do médio inglês e notas de Paulo Vizioli. São Paulo: T. A. Queiroz, 1988, págs. 156).

       Para finalizar (calma meu filho, já vai acabar!), gostaria de sugerir a leitura dos Contos de Cantuária. É muito legal, seja para uma leitura sem maiores compromissos ou para ficar viajando na batatinha como eu fiz. A única tradução para o português que eu conheço é a do Paulo Vizioli, que fez um ótimo trabalho na minha opinião. Para quem se interessar também, o diretor Pier Paolo Pasolini adaptou para o cinema a obra de Chaucer, o nome do filme é o mesmo do livro ( The Canterbury Tales) e, apesar de não ser muito fácil de se encontrar, realmente vale a pena procurar, é uma adaptação fantástica ao meu ver. E, claro, recomendo também os livros do nosso Jorge Amado, que são extremamente gostosos de se ler. A peça que eu fui ver também está impecável, todo o elenco e produção estão de parabéns! Para quem se interessar a peça vai estar até 15 de Fevereiro no Teatro dos Grandes Atores. A Raposa Peregrina recomenda!

Think About.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

- Lucy in the Sky with Diamonds:


       Estou jantando a minha gororoba tranquilamente enquanto assisto ao “Jornal Nacional”, era a noite de 3 de Fevereiro se não me engano. De repente a notícia de que policiais abordaram um rapaz que estava usando maconha na praia de Ipanema. Este usuário conseguiu escapar, isso porque parece que houve um grande tumulto entre os banhistas que protestaram e impediram que os policiais o levassem. No dia seguinte, abro o jornal O Globo e descubro, na página 15, a mesma notícia, só que agora fico sabendo que cinco pessoas que tentaram impedir a ação policial foram detidas e serão autuadas por desacato à autoridade e lesão corporal.

       Calma, leitor amigo! Não vou escrever sobre a liberalização das drogas, nem sobre truculência policial, nem sobre tráfico e muito menos sobre vulgas idéias como “elites hipócritas que aceitam a repressão contra o tráfico nas favelas, mas não contra a repressão do uso da droga no seu quintal”, que é uma das opiniões que já ouvi falar. Para ser bem sincero, todas estas questões são demasiadamente complexas e, como esta não é uma coluna séria, não vou ficar entrando nelas, até porque eu também não tenho estudo nem nada para ficar falando disso.

       O que me chama atenção nisso não é tanto a maconha, mas sim o porquê de usá-la. Eu nunca fiz uso, no entanto posso dizer que conheço muita gente que usa e me relatam as mais diferentes experiências. O relato que melhor me lembro é o de um amigo meu que foi no último show do Pink Floyd, aqui no Rio, e fez uso da maconha. Ele me dizia que seus sentidos ficavam mais aguçados, ele “experimentava” e “sentia” mais o show quando estava sob efeito da marijuana. Ou seja, a maconha oferecia uma maneira diversa, e para o meu amigo melhor, de se experimentar o show. O que eu venho colocar é o seguinte: em minha opinião, estamos cercados por propagandas e opções que na sua grande maioria das vezes primam pelo exagero das sensações e o extremo das experiências. Vejamos a nova geração de vídeo-games, o Wii o PS3 e o XBOX-360. Todos eles prometem uma experiência mais profunda do jogo, seja com processadores ultra-rápidos e com gráficos deslumbrantes e cada vez mais reais (PS3 e XBOX-360) ou através de uma jogabilidade diferente que transporta o jogador cada vez mais para dentro do jogo (Wii). E isso é apenas um exemplo, vejamos os esportes que surgiram nas últimas décadas, como o buggie-jump (isso surgiu nas últimas décadas? Sei lá meu filho, vai procurar na Wikipedia...). É loucura para uns, mas para outros é o extremo de uma experiência com um esporte. E o viagra? Velhinhos, a pipa do vovô voltou a subir! Continue experimentando do sexo na terceira idade! E tem mais, ainda existem casos de jovenzinhos que usam o viagra para aumentar a experiência e duração do sexo. É Deus no céu e viagra na terra meu filho. Enfim, só são pequenos exemplos, mas que, pelo menos para mim, mostram como a nossa sociedade está cercada de propagandas e produtos que nos incitam a experimentar mais, ir mais fundo nas nossas sensações.

       Nesse ponto que eu volto para a maconha. Oras! Se o mundo que nos cerca prima pela propaganda do “você nunca experimentou algo igual” ou “experimente mais e melhor”, como podemos reprimir a maconha ou outros tipos de alucinógenos que nos fornecem um aumento das sensações e experiências? (a maconha é um alucinógeno? Talvez tenha gente que fique até mais sensata sob o seu efeito...). O fato é que ainda não lidamos bem com a questão da droga, temos uma sociedade contraditória que incita a experiência e ao mesmo tempo a reprime. A maconha pode ser mesmo uma dessas formas de se obter a experiência “mais profunda” tão vinculada pelas propagandas, porém o seu uso é socialmente mal visto. E Porque diabos é mal visto? Claro, como eu disse anteriormente, essa discussão dá “pano para a manga”, e certamente teríamos que analisar diversos outros fatores para entender melhor esse olhar sobre a maconha, mas eu só queria tocar neste ponto mesmo, que é o quanto nós vivemos em uma sociedade contraditória embora nem sempre nos demos conta disso.

Think about!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

- O Açaí e a Crise Econômica Mundial:

       Olá! Quem vos dirige estas palavras é a Raposa Peregrina, que vai escrever para esta “coluna”. Esta parte aqui, na verdade, não tem propósito ou utilidade alguma, simplesmente abordarei e colocarei o meu ponto de vista sobre temas variados. Já aviso logo de antemão que estou longe de elaborar grandes discursos, a mim não foi dado o dom da escrita, mas espero que seja o suficiente para servir de passatempo para qualquer internauta que espera por aquele donwload acabar no Torrent ou que não tem nada para fazer. Bem, dadas as devidas apresentações, vamos para o tema de hoje.


       Eu amo açaí. Simplesmente fiquei viciado nessa coisinha roxa. Sempre que estou indo para casa passo numa pequena lojinha caseira de açaí que existe no caminho. Um belo dia me deparei com um papel informando que a partir de Fevereiro o preço do açaí iria aumentar, sem nenhuma explicação do porque de tal aumento. Na verdade imaginei logo o motivo: a tão temida e escabrosa crise mundial. Será que estou viajando? Será que a crise mundial afeta o preço do açaí que eu compro? Eu não sei, a moça que vende açaí pode ter aumentado sem maiores motivos, só para ganhar mais dinheiro mesmo. Porém, sendo esta a causa ou não do aumento do açaí, uma coisa que me veio á cabeça é justamente o quanto eu entendo, ou não, de economia e de como ela afeta minha vida. Vamos supor que a moça que vende açaí aumentou o preço porque, devido á crise mundial, o preço dos gêneros alimentícios nos supermercados aumentou, logo ela precisa aumentar o preço do seu produto, o açaí, para conseguir compensar o aumento da comida que ela compra. É uma hipótese um tanto quanto improvável, visto que dificilmente ela extraí toda a renda da casa dela só vendendo açaí, mas ainda sim é uma possibilidade. Fiquemos com ela para ilustrar o que eu quero dizer.


       Se a causa do aumento do açaí que eu consumo foi a crise, logo está acabou influindo na minha vida, me fazendo desembolsar R$ 0,50 a mais para continuar a comprar meu açaí. E o que eu entendo dessa crise? Como ela se deu? Pelo pouco que eu sei (e eu posso estar errado) foi uma crise basicamente financeira, ou seja, se deu porque muitos bancos e outras instituições de financiamento estavam emprestando dinheiro para negócios que não valiam tanto assim. Enfim, o pessoal apostava no cavalo mais rápido sem saber que ela era uma tartaruga, e quando descobriram que injetaram dinheiro em algo que não era o que eles pensavam – boom! – Hasta la vista baby! Todo mundo ficou desconfiando de todo mundo, pensando que os valores dos papéis de empresas e bancos na bolsa de valores não eram para ser confiados, eram muito menos do que as empresas realmente valiam. Em um momento como esse de incerteza nas bolsas mundiais o efeito acabou se espalhando para outros setores da economia, com empresas falindo, com demissões em massa e, claro, com os preços dos produtos aumentando, inclusive, talvez, o do meu açaí também. O processo certamente é mais complicado do que isso, mas eu acredito na minha vã ignorância que estas sejam as linhas gerais.


       Enfim, fazendo uma diminuição grosseira, só porque uns manés saíram fazendo orgias com dinheiro nas bolsas deu em uma merda que afetou a vida de inúmeras pessoas ao redor do mundo. Hoje em dia, assim como, creio eu, na maioria das sociedades antigas, a economia tem influência na nossa vida, no nosso cotidiano. E essa influência não é pouca, perder um emprego nesses tempos difíceis não deve ser fácil, requer uma reestruturação da vida do indivíduo e da família dele, principalmente se esta contava com a renda oriunda desse emprego. No entanto, o quanto entendemos dessa economia que influi tanto na nossa vida? Sabemos para que serve o Banco Central do Brasil, por exemplo? Sabemos quem escolhe os dirigentes econômicos do nosso país que tanto exercem influencia sobre as nossas vidas? Será que não deveríamos escolher estes dirigentes, assim como elegemos deputados, governadores e presidentes? Será que na escolha desses dirigentes não influi discussões políticas e interesses econômicos que não necessariamente são os mesmos da maioria da população? Eu acredito que sei algumas dessas respostas, outras não sei, porém todas elas acabam influindo na minha vida e na vida de mais um monte de gente. E estes “montes de gentes”, eu acredito, também não entendem muito bem como é o funcionamento da nossa economia ou da economia mundial. Não é para menos, são tantos termos técnicos e escritos confusos que muitas vezes podem deixar mais dúvidas do que esclarecer alguma coisa. Eu tento ler a coluna da Miriam Leitão, uma economista que escreve para o jornal O Globo, mas nem sempre consigo captar a mensagem. Pode ser ignorância minha mesmo, mas eu acho que não existe uma tentativa muito forte de explicar o mundo econômico a nossa volta. A ciência econômica não é banalizada, e isso não é bom a meu ver.


       O que você quer dizer com isso Raposa Peregrina? Que todos nós temos que ser grandes entendedores do mundo econômico??? Não. Só penso que o povo em geral poderia pensar mais e atuar mais nas esferas econômicas, expandir seu aprendizado sobre o assunto. Admito que é difícil, desconheço cartilhas para iniciantes, apesar de supor que existam. A fala dos economistas também não ajuda, seja na televisão, nos jornais e revistas, lá estão eles com os seus terninhos arrumados e seu discurso confuso. Uma opção seria mesmo que se criasse uma consciência de pensamento econômico já nos colégios, podendo se iniciar no Ensino Médio. Aprender noções básicas como juros, taxa de câmbio, como a economia funciona, aprender os males e distorções sociais que ela pode causar e outras coisas mais. É um tópico inclusive que pode ser abordado em matérias que já estão na grade curricular, como História, por exemplo.


        Enfim, é isto. Think about!